Resumo
Várias evidências que sugerem que o leitor normal dispõe essencialmente de duas vias para ler as palavras: uma baseada nos sons – via fonológica – e outra na em unidades maiores que a letra – via ortográfica. Cada uma destas vias apresenta características diferentes, pelo que quando uma delas se encontra lesada estamos perante uma dupla dissociação.
Partindo das teorias clássicas da leitura foi possível criar uma prova (PADD – Prova de Análise e Despiste da Dislexia) constituída por vários subtestes que analisam o desempenho do leitor face a um conjunto de critérios com vista ao despiste de perturbações fonológicas ou ortográficas.
O léxico mental é a parte da memória onde convergem os diferentes tipos de informação que dispomos relativamente às palavras, necessários para a sua compreensão. Esta informação é armazenada em unidades, sendo o fonema uma representação formal e abstracta dos sons elementares.
Os anos 70 e 80 destacaram-se pelo aparecimento de vários modelos de leitura (Temple, 1997). Os trabalhos de Marshall & Newcombe (in Morais, 1997), evidenciaram duas patologias raras mas bastante informativas sobre os mecanismos utilizados na leitura das palavras: Dislexia profunda e dislexia de superfície.
O termo dislexia, refere-se a um conjunto de alterações que têm em comum uma perturbação ou atraso da aquisição e aprendizagem da leitura, na ausência de qualquer outra alteração das capacidades intelectuais (Habib, 2000).
A dislexia profunda (fonológica) caracteriza-se pela ocorrência de erros semânticos (e.g., o sujeito lê “carro” no lugar de “roda”), bem como pela grande dificuldade na leitura da pseudopalavras, facto que atesta uma perturbação severa do processo de conversão grafo-fonológica (Morais, 1977).
É ainda típico destes pacientes um desempenho relativamente idêntico na leitura de palavras regulares e irregulares, bem como a falta de sensibilidade para aspectos fonológicos (Morais, 1997).
O facto dos sujeitos com esta perturbação não conseguirem ler todas as palavras demonstra a importância da via fonológica para uma leitura eficaz, mas a existência de uma via alternativa.
A dislexia de superfície, parece resultar de dano na via ortográfica. Estes sujeitos lêem palavras e pseudopalavras quase com o mesmo nível de desempenho mas lêem muito melhor as palavras regulares do que as irregulares, facto que muita vez conduz a regularizações (Morais, 1997).
Coltheart não nega que o acesso lexical se possa efectuar a partir de uma representação fonológica, nomeadamente no caso da leitura de palavras complexas ou pouco familiares, mas acredita que na leitura corrente e para um leitor sofisticado, o acesso lexical efectua-se directamente a partir da informação ortográfica.
Os dados apresentados sugerem a existência de dois grupos de pacientes em que, por oposição ao leitor normal, têm ora a via ortográfica ora a via fonológica afectada. Cada uma destas vias apresenta características diferentes, pelo que quando uma delas se encontra lesada estamos perante uma dupla dissociação.
Partindo das teorias clássicas da leitura foi possível criar uma teste (PADD – Prova de Análise e Despiste da Dislexia) que analise o desempenho do leitor face a um conjunto de critérios com vista ao despiste de perturbações fonológicas ou ortográficas.
A PADD é constituída por 5 subtestes, um dos quais apresenta um caracter suplementar. Todos os subtestes que formam a PADD podem ser aplicados separadamente, no entanto aplicação global proporciona uma informação mais rica.
Os subtestes de consciência fonética, pretendem analisar a sensibilidade do sujeito para a unidade formal e abstracta dos sons – fonema.
No subteste de subtracção de fonemas é solicitado ao sujeito que retire o som inicial ou final das palavras. Este subteste, baseado no “jogo do príncipe e da feiticeira” (Morais, 1997), revela-se bastante útil e pode ser aplicado de uma forma relativamente simpática e apelativa a crianças em idade pré-escolar.
O mesmo ocorre no subteste de troca de fonemas e no subteste de inversão de fonemas, em que o sujeito deve ora trocar mutuamente os fonemas iniciais de duas palavras (e.g. “galo” e “pêlo”, lê-se “guêlo”), ora inverter a ordem de aparecimento destas unidades na palavra.
O subteste de leitura é composto por seis listas que o sujeito deverá ler em voz alta: lista 1, palavras curtas e frequentes; lista 2, palavras curtas pouco frequentes: lista 3, palavras compridas frequentes; lista 4, palavras compridas pouco frequentes; lista 5, pseudopalavras curtas; lista 6 pseudopalavras compridas. Cada lista apresenta duas colunas: coluna A – palavras regulares – e coluna B – palavras irregulares.
Em cada um destes subtestes é registado o tempo de latência para cada resposta, bem como a resposta do sujeito, com vista à cotação da percentagem de erros.
O subteste de memória auditiva imediata apresenta um carácter suplementar e fundamenta-se no subteste de memória de dígitos proposto por Wechsler (1955). Pretende verificar a existência de eventuais deficiências ao nível na memória auditiva que influenciem negativamente a leitura.
Uma vez afastada a hipótese de dificuldades ao nível da memória e capacidade intelectual, o padrão de resultados obtidos nos subtestes da PADD permite analisar o processo de leitura bem como informar acerca de eventuais perturbações.
A ocorrência de dificuldades nas provas de consciência articulatória e consciência fonética sugere problemas ao nível da via fonológica. Caso o subteste de leitura detecte dificuldades na leitura de pseudopalavras e ocorram parafasias semânticas esta ideia surge reforçada.
Um desempenho razoável nos subtestes de consciência fonética e na leitura de pseudopalavras que contraste com uma maior dificuldade na leitura de irregulares face a regulares, bem como a ocorrência de erros de regularização, sugere perturbação na via ortográfica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário